Toda a gente conhece pelos menos um ou mais ateus, com os quais convivemos todos os dias ou ocasionalmente. Seria interessante perceber as diferenças que essas pessoas manifestam, e explorar suas atitudes e sentimentos sobre ser ateu. Se tornar ateu é um processo gradual que não pode e nem acontece do dia para a noite. Mas umas das coisas que os ateus pouco falam são as mudanças graduais por que passamos depois de nos tornarmos ateus. Richard Dawkins fez uma
escala de 7 estágios para o grau de crença ou não-crença em Deus. A escala que proponho aqui é para ateus apenas. Você passa por 5 fases até chegar a conclusão, com 100% de probabilidade, de que Deus não existe.
Atenção que esta classificação só é aplicável a crentes convertidos, que em algum momento acreditaram em Deus. E claro, pode haver sobreposição entre diferentes categorias. Aqui vamos,
Categoria Um: Sou ateu apenas na mente
Aqui percebes que deus ou não existe ou a probabilidade de existir é muito baixa. Nesta fase, por definição és ateu, mas não o admites nem para ti mesmo. Não queres te identificar com essa ‘’gente’’, e o mero facto de pensares em ser ateu te paralisa, mas facilmente reconheces as contradições em todas as religiões e a incoerência do próprio conceito de Deus. Ainda te identificas como espiritual ou agnóstico.
Categoria Dois: Admito, sou ateu
Nesta fase já aceitas que és ateu. É uma fase animadora e assustadora ao mesmo tempo. Tens a sensação de que quebraste o código e descobriste o mistério. Admites a não-crença e até contas a 1 ou 2 amigos muito próximos, mas pedes que não contem a ninguém, por medo da indignação das pessoas da sociedade em que vives. Neste momento ainda estás emocionalmente envolvido com a fé e tens alguma vergonha da tua não-crença. Contudo, estás feliz contigo mesmo por ter eliminado a dissonância cognitiva que sentias ao tentar conciliar o que aprendeste através do método cientifico com o que diz o teu ‘’livro sagrado’’. Aqui também começas a explorar mais os recursos disponíveis como internet e livros clássicos de ateísmo, como o ‘’Deus, um delírio’’ ou ‘’Deus não é grande’’.
Categoria Três: Tentando encontrar mais ateus
Neste ponto, você esta mais confiante que Deus não existe, mas ainda não está a vontade falando do assunto com pessoas que não tiveram a mesma experiencia e não te conseguiriam entender. As vezes te perguntas se estás ‘’sozinho nessa’’. Isso te leva a procurar outros ateus, quer juntando se activamente a grupos ou organizações ateias ou cépticas. Esta etapa pode ser muito complicada, porque você é muito aberto quando está com não-crentes mas muito reservadocom outras pessoas próximas que acreditam. Portanto, você leva uma vida dupla.
Categoria Quatro: Eu sou ateu, lide com isso!!
Finalmente percebes que ser ateu é algo bom e que deve ser admitido com orgulho. Nesta altura você já teve bastante interacção com colegas pensadores livres para perceber que nem eles e nem você estão loucos. Você percebe que ateus são pessoas normais, com mesmos gostos, aversões e peculiaridades que qualquer outra pessoa.
Reconhecendo que o ateísmo é perfeitamente respeitável e defensável, você começa a partilhar o seu ateísmo em círculos mais amplos, com qualquer pessoa. Já não estás preocupado com confrontos e repreensão por parte da sociedade, porque sentes que o teu ponto de vista é perfeitamente justificável. Surge também uma grande sensação de liberdade, porque já não precisas mais ter uma vida dupla. Contudo, não sentes a necessidade de sair por ai gritando aos quatro ventos o teu ateísmo e disseminar uma agenda anti-Deus. Apenas queres ser respeitado pelo que tu és.
Categoria Cinco: Eu não acredito em Deus e você também não deveria
Este é o último estágio. Tu não acreditas em Deus e ninguém mais deveria acreditar, porque não faz sentido. Nesta fase, você não só está orgulhoso por não acreditar, mas por conta das consequências da religião na sociedade, também estás a disposto combater publicamente a religião. Já não estás satisfeito com a atitude ‘’vive e deixa viver’’. É o tipo de ateu apelidado de ‘’militante’’. Mesmo na forma extremista de ateu, estás longe de defender a imposição do ateísmo na sociedade. Você vai apresentar suas opiniões sobre fé e religião inequivocamente, chamar de ‘’contos de fada’’ os textos religiosos sem pestanejar e nem se preocupar com a dor que tais verdades possam causar. Porque a dor, que possas infligir é muito menor do que aquela causada pela ignorância, falta de pensamento crítico, descriminação e intolerância e mortes causados pela religião. Você tenta enfatizar que o mais importante é a busca honesta da verdade, e não deve haver ‘‘passe-livre’’ para nenhum tipo de sistema religioso apesar de muita gente dizer que não pode viver sem.
Estas são as categorias de ateus que me parecem mais comuns. Obviamente nem todos ateus chegam a categoria 5 ou passam por todas as categorias. Alguns podem inclusive ficar-se pela categoria 1, 2,3 ou 4. Eu pessoalmente considero-me na categoria 4, ou melhor 4.6!! Com muita tendência para 5.
Se você é ateu, acho que seria interessante tentar descobrir em que categoria você se enquadra. Felizmente do que tenho visto, independentemente da categoria em que qualquer ateu se encontre, parece que a tendência é sempre subir para o nível seguinte. Então avancemos!
A luta continua!!