Francis Collins é uma daquelas raras pessoas que é excepcionalmente brilhante e excepcionalmente estúpida em iguais medidas. Não só ele é um geneticista altamente respeitado - mais conhecido por suas descobertas de genes responsáveis por doenças e por ter dirigido o Projecto Genoma Humano - mas ele também é um cristão evangélico.
Mas suas excentricidades não param por aí. Ele também é um adversário ferrenho do criacionismo. Ele acha que o teísmo e evolução são compatíveis. E que tanto "a fé e como a ciência podem levar-nos a verdade sobre Deus e a criação".
Para mim, ele quer manter uma visão do mundo que acomoda tanto seu currículo científico e suas crenças religiosas, e depois fingir que não existe conflito.
Basta ler alguns dos comentários feitos por ele em um debate com Richard Dawkins na revista Time, em 2006. A ginástica intelectual que ele tem de fazer para sustentar esses pontos de vista conflituantes é de tirar o fôlego.
Collins sobre quando e como Deus começou a evolução:
COLLINS: "Por estar fora da natureza, Deus também está fora do espaço e do tempo. Assim, no momento da criação do universo, Deus também poderia ter activado a evolução, com pleno conhecimento de como ela ia suceder, talvez até incluindo esta nossa conversa. A idéia de que ele poderia prever o futuro e também dar-nos espírito e vontade de realizar nossos próprios desejos torna-se totalmente aceitável. "
"Perfeitamente aceitável"? Isso não faz sentido. Se Deus já havia determinado o futuro, no momento da criação, então, por definição, todos nós estamos vivendo vidas predeterminadas, com resultados inevitáveis. Sob essa teoria, a vontade própria ou livre arbítrio do ser humano seria simplesmente uma ilusão.
Uma outra questao seria porquê Deus, na sua infinita sabedoria, poder e amor, iria escolher um processo tão lento e destrutivo como a evolução para trazer a vida. Teríamos de supor que Deus sentou-se com os braços cruzados por cerca de 10 bilhões de anos antes que a vida finalmente começasse e depois esperou por mais 4000000000 anos até que os seres humanos começassem a evoluir.
Collins parece desconcertantemente perturbado por essas questões.
Collins sobre a falta de provas da existência de Deus na evolução:
COLLINS: …não acho que seja o propósito de Deus mostrar a sua intenção absolutamente óbvia para nós. Se lhe convier ser uma divindade que devemos procurar, sem ser forçados, não teria sido sensato para ele usar o mecanismo de evolução, sem indicações óbvias para revelar seu papel na criação?
Muito conveniente. Assim, a falta de provas da existência de Deus é apenas uma parte de seu plano. Se este argumento for levado à sua conclusão lógica, teríamos de argumentar que uma completa ausência de provas para Deus é simplesmente a prova de que ele é muito mais inteligente em esconder a sua existência do que pensávamos.
Collins responde à pergunta: "Se Deus criou o mundo, quem criou Deus?"
COLLINS: Meu Deus, não é improvável para mim. Ele não tem necessidade de uma história da criação para si próprio.
Isso é simplesmente muito fácil não é? Certamente Collins ainda não pode fingir que esta é uma resposta adequada de como um Deus infinitamente inteligente e poderoso poderia ter existido no início da criação. Porquê crentes como Collins não sao honestos e admitem que não sabem? O que é tão assustadora quanto a dizer "não sei"? Cientistas fazem isso o tempo todo.
A diferença entre cientistas e religiosos, porém, é que os cientistas usam as lacunas em nosso conhecimento como base para futuras pesquisas. Os religiosos não. Ao invés de tentar aumentar a nossa compreensao, preferem permanecer no conforto da sua certeza infantilmente equivocada e preencher um mistério com outro, afirmando: "Deus fez isso. Mistério resolvido ".
As respostas de Collins mostram todos os sinais de alguém que tenta - e falha espectacularmente - encontrar uma maneira de conectar seu conhecimento científico com suas crenças religiosas. Ele pode ser um cientista brilhante, mas dizer que ele está equivocado seria dar-lhe crédito em demasia.