quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A crença na crença

Imagine a seguinte parábobola: Um homem vem ter contigo e diz "Há um dragão na minha garagem". Fascinante! E tu pedes para ver tal dragão e o homem responde “é um dragão invisível”.
Bom, a hipótese continua testável, pois podiamos ir a garagem, e apesar de não vermos o dragão, tentar ouvir uma respiração pesada vindo de fonte não identificável, ver pegadas aparecendo misteriosamente no chão e usar aparelhos para medir o consumo de oxigénio e libertação de dióxido de carbono na garagem.

Então tu dizes ao homem “tudo bem, eu vou a garagem e tentar ouvir alguma respiração de fonte não identificável” e ele prontamente diz “não , é um dragão inaudível”. Te propões a medir níveis de dióxido de carbono no ar e o nosso companheiro diz "o dragão não respira".

Carl Sagan usou esta parábola para ilustrar o quão hipóteses pobres necessitam de “gincanas” rápidas para evitar a testabilidade. Ora bem, o homem já tem um "modelo de fuga" bem preciso da situação na sua mente. A grande questão é, será que ele realmente acredita que há um dragão na sua garagem? Reparem que ele NÃO ESPERA ver o dragão ao abrir a porta da garajem, por isso inventa todo o tipo de desculpas para evitar qualquer testabilidade da sua alegação. Normalmente, se alguém acredita que há um dragão na garagem, essa pessoa espera ver tal criatura assim que abrir a porta da garagem. Caso não haja dragão ao abrir a porta isso significa que não há dragão na garagem. Bastante simples, funciona como “tiro e queda”.

No caso do nosso personagem, é como se ele antecipasse que não há dragão na garagem mas ao mesmo tempo inventa desculpas para defender a sua crença de que existe um dragão na garagem-crença na crença. O termo crença na crença foi proposto pelo filósofo americano Dan Dennett no seu livro “Breaking the spell, religion as natural phenomenom”. Cremos porque queremos crer. A verdade “verdadeira” não tem apelo, só aquela que fabricamos. Isto nasce da profunda necessidade de crermos em algo, independentemente desse algo ser verdade ou não.

Vejam um caso flagrante descrito pelo céptico norte-americano Michael Schermer que desmascarou um suposto paranormal que se comunicava com mortos e mandava mensagens para seus familiares. No fim de uma sessão paranormal, Schermer subiu ao palco e mostrou como a performance tinha sido uma fraude do início ao fim. A platéia não reagiu no início. Depois vaiou . Depois quis agredí-lo (incrível hein?). Schermer teve de sair protegido . Uma senhora aproximou-se dele e disse:” pode ser falso, mas se não acreditarmos nisso acreditaremos em quê?

Tem mais: no seu livro “Why Darwinism is True” -Jerry Coyne fala da mesam coisa. Coyne é um especialista em evolução das espécies e autor de um excelente livro sobre o tema. Seu livro traz provas cabais, irrefutáveis, definitivas, avassaladoras- da verdade da evolução. Ele conta que em suas palestras (para gente auto-intitulada ” sofisticada”) alguém sempre se aproxima dele no final com o mesmo papo:”Parabéns.Suas evidências são realmente irrefutáveis ,mas eu prefiro continuar com minha visão de que o mundo e as criaturas são obra de um Deus que seguiu um plano em sete dias”. Ou seja :”eu quero crer na minha crença, não me amole com a verdade“.

Isto é o que acontece certamente com a maioria dos religiosos! Provavelmente não acreditam em Deus, eles foram condicionados a acreditar que a fé é uma virtude e que alguém que acredita em deus é necessariamente melhor que alguém que não têm crença em Deus. Sinceramente agora entendo o porquê de quando eu perguntava a alguns amigos meus porquê acreditavam em Deus apenas encolhiam os ombros. Subentendo agora que a resposta seria “porque devo/é bom/é moral”. Fascinante!

Pergunta do dia:
Porque Deus possui quase todas as características de algo que não existe??
Por exemplo: imaterial, invisível, indetectável, etc…

8 comentários:

  1. Olá,

    Parabéns pelo post!

    Aos "ins" (imaterial, invisível, indetectável) podes acrescentar intestável ou até inexistente.

    Muite gente argumenta que existe porque sente, tal como sinto o frio ou o vento. Mas de onde vêm os sentidos? Do cérebro, mas este ainda não está bem testado.

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  2. Dário,
    Obrigado. O cérebro prega-nos com cada partida: Eu conheço gente de diferentes igrejas, todos alegam que a sua igreja é a verdadeira e todos dizem que têm certeza disso porque sentiram o espírito santo. Eu acredito que elas realmente sentiram o espírito santo, mas o espírito santo não nada mais que um subproduto de cérebro. Se eu me concentrar para sentir o espírito santo vou senti-lo também.

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  3. Adorei o post! É o único comentário que posso fazer, já que é exatamente como eu penso! rs

    Você se importa se eu repassar o seu post em um grupo que faço parte? (com os devidos créditos e tal)

    Bjos

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  4. Polinha,
    Obrigado.Não me importo não, faça o que quiser com o post!

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  5. Hermógenes!
    Não quero ser massante a colocar questões da área da fisíca em seu post,mas é essencial,pois tocastes na essencialidade da matéria e suas atribuições.O universo tem como componentes fundamentais os campos,a radiação e a matéria.O universo é substâncialmente composto de campos,quer estáticos ou quantizados em partículas,que estruturam ou compõem a matéria e a radiação.Os fótons são bósons elementares e não são matéria e sim quantizações de campos "mensageiros de interações",e finalmente a matéria é um "ajuntamento" de quarks e léptons.A própria energia não é algo ou "coisa" e sim um atributo deste algo ou "coisa",e a própria "massa" é uma forma de orçar o conteúdo energético de rerpouso da matéria.Fiz todo este prólogo longo e chato,para afirmar e ratificar textualmente que aquilo que vemos e observamos no universo é ínfimo(a começar pelos 4% de matéria visível) e a as "particulas" e "energias" são "virtuais" ou "escuras",isto é "imateriais,invisíveis e indetectáveis"na sua essência.Na intimidade a "matéria" e suas atribuições são "campos" estáticos,que se quantizaram, e "apareceram" em nosso campo de percepções humanas.Acho extremamente "simplista" essa visão de o "dragão da garagem" quer por percepção visual ou tecnológica não "estar lá",ser definitiva quanto ao conceito absoluto que tudo é o que percebemos ou podemos observar.(a princípio não podemos observar os quarks-impossibilidade tecnológica)
    Há muito mais mistérios entre o céu e a terra,pois tudo não passa de percepções,e elas podem estar deslocadas ou direcionadas a algo que nos priva de uma visão holística do universo e suas implicações.Há limitações tecnológicas que o princípio da incerteza de Heisemberg nos impõem no mundo nano,em que a observação de um fato compromete a fidelidade da outra observação,e isto gera incerteza,e por isso o absolutismo naturalista de uma visão do mundo,abre espaço para uma visão transcendental do universo,da sua formação e implicações.Abraços

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  6. tu é quantificável, até a matéria negra por dedução.
    Para Deus, nada.

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  7. Muito bom jonas,

    Mas outra coisa: A matéria escura é detectável pelos seus efeitos. Aliás, efeitos esses que podem nem ser devidos à matéria escura. Deus não tem sido detectável é o que o post quer dizer.

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  8. Dário!
    Não é do meu perfil ficar a duvidar de afirmações da ciência,mas tenho muito cuidado e procuro as controvérsias para me certificar onde estou a alicerçar os meus conhecimentos.Quanto a matéria escura há novas propostas de astrofísicos dizendo que ela nem possa nem existir,e sim a gravidade em dimensões extra-galaáticas atuaria de forma diferente produzindo os efeitos já conhecidos,que no sistema solar se comportaria como Kepler e Newton se pronunciaram,e que em galáxias maiores e aglomerados atuaria de forma contrária.Este site abaixo simplisticamente relata alguma coisa sobre isso.Quase todas as coisas em físicas são prematuras,e por isso que não devemos imediatamente tomar-mos posições sem antes criticamente analisarmos as afirmações.Vocês me interpelaram quanto a detectação da mátéria escura,e ela pode nem ser verdadeira.Quanto a detectação falei que há muitos "coisas" no universo indetectáveis,quer por restrição tecnológica quer por limitação humana pelo seus aparatos perceptivos(sentidos).Quando descemos a essência(achamos que é essência) da matéria,percebemos o quanto o "nada" para nós se constituí o tudo.O universo se resume em ondas imateriais de "probabilidades" que se quantizam em partículas e em bósons elementares de interação,que tem um início do NADA ABSOLUTO a essa complexidade e sintonia perfeita.Isto é assombroso.Volto afirmar,há muito mais mistérios entre o céu e a terra que podemos DETECTAR>Abraços!
    http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=lei-gravidade-revisada-dispensar-materia-escura&id=010130091123

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