segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Religião como fenómeno natural

Hoje decide fazer um “copy and paste” de um trecho do livro best-seller do filósofo e ateu Americano Dan Dennet: “Quebrando o encanto, religião como fenómeno natural”. Acho que é um trecho interessante de ler, do ponto de vista biológico e antropológico.

Quebrando o encanto:Religião como fenómeno natural(1)
E ele lhes falou muitas coisas em parábolas, dizendo: olhai, um semeador foi semear, e quando ele semeou, algumas sementes caíram à beira da estrada e as aves vieram e as devoraram. [Mateus 13, 3-4]
Se a “sobrevivência do mais apto” tiver qualquer valor como slogan, então a Bíblia parece ser um bom candidato para o prêmio de texto mais apto.[Hugh Pyper, O texto egoísta: a Bíblia e a memética]


Observe uma formiga em um prado, laboriosamente subindo por uma folha de capim, cada vez mais alto, até que cai, depois sobe outra vez, e mais outra, como Sísifo rolando sua pedra, sempre tentando chegar ao
topo. Por que ela faz isso? Que benefício estará buscando para si própria nessa estranha e extenuante actividade? A pergunta é que está errada. Não há benefícios biológicos para a formiga. Ela não tenta obter uma visão melhor do território, nem procura comida ou se exibe para um parceiro em potencial, por exemplo. Seu cérebro foi dominado por um parasita minúsculo, Dicrocelium dendriticum, que precisa entrar no estômago de um carneiro ou de uma vaca para completar seu ciclo reprodutivo.

Esse pequeno verme cerebral dirige a formiga a uma situação que beneficie sua progênie, e não a da formiga. Esse não é um fenômeno isolado. Do mesmo modo, parasitas manipuladores infectam peixes e camundongos, entre outras espécies. Esses caronas fazem com que seus hospedeiros se comportem de modos bizarros — até mesmo suicidas — para benefício do parasita, não do hospedeiro.

Será que com os seres humanos acontece alguma coisa parecida? Acontece sim. Com grande freqüência encontramos seres humanos que deixam de lado seus interesses pessoais, sua saúde, suas oportunidades de terem filhos e dedicam a vida inteira a promover uma idéia que se fixou em seus cérebros. A palavra árabe islam significa “submissão”, e todo bom maometano dá testemunho disso, reza cinco vezes por dia, dá esmolas, jejua durante o Ramadã e tenta fazer a peregrinação ou hajj a Meca, tudo em nome da idéia de Alá e de Maomé, o mensageiro de Alá. Cristãos e judeus fazem coisa parecida, é claro, devotando a vida a disseminar a Palavra, fazendo sacrifícios enormes, sofrendo bravamente, arriscando a vida por uma idéia. Os sikhs, os hindus e os budistas fazem o mesmo. E não nos esqueçamos dos muitos milhares de humanistas seculares que deram a vida pela Democracia, pela Justiça ou pela simples Verdade.

Há muitas idéias pelas quais se pode morrer. Nossa possibilidade de dedicar nossa vida a algo que consideramos mais importante que nosso bem-estar pessoal — ou nosso próprio imperativo biológico de ter filhos — é um dos aspectos que nos diferenciam do resto do mundo animal. Uma mãe ursa defenderá bravamente um espaço que tenha alimentos e defenderá com ferocidade sua cria, ou até sua toca vazia. Provavelmente, contudo, já morreu mais gente na brava tentativa de proteger locais e textos sagrados do que na tentativa de proteger reservas de alimentos para seus filhos e suas casas. Como outros animais, temos desejos inatos de nos reproduzir e de fazermos o que for necessário para atingir essa meta, mas também temos crenças e a capacidade de transcender nossos imperativos genéticos. Esse fato nos torna diferentes, mas é em si mesmo um fato biológico, evidente para a ciência natural, e algo que exige uma explicação da ciência natural. Como apenas uma espécie, o Homo sapiens, veio a ter essas perspectivas extraordinárias quanto à sua própria vida?...

Dan Dennett

Continua...

2 comentários:

  1. Ateu? Vamos decutir estes temas numa próxima oportunidade.

    Abraços

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  2. O comentário é de Viriato Dias

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